depois do beijinho

Nos filmes românticos (ou nas grandes histórias do Nicholas Sparks, e, mesmo assim, só naquelas em que as personagens acabam juntas e felizes para sempre) o fim acaba quase sempre com o casamento dos protagonistas que, após 1001 desencontros ao longo do filme, conseguem pôr termo ás diferenças e dão o "sim" final.

Depois do tal "sim" (e, claro está... do beijinho) a única coisa que vamos conseguir ver a seguir... são os créditos.

Não conheço nenhum filme que comece com o casamento, com o beijinho inicial.

O que me leva a perguntar:
"E depois? Como é que ficam? Durará para sempre? As diferenças que tanto se fizeram notar ao longo do filme, como ficam?"

"Eles adaptam-se", penso.

Hum... Será? Será que temos a capacidade de nos adaptar durante uma vida inteira? (poderia pensar que tinham a capacidade de mudar enquanto pessoas, mas como não acredito que as pessoas mudem... fico-me pelo adaptar).

O meu pensamento continua, e as perguntas sucedem-se:

"E as tais diferenças que existiam entre eles? Como se resolvem?"

Ela rica. Ele poupado.
Ela vai continuar a ser sonhadora e apaixonada. Ele vai continuar a ser racional e com os pés bem assentes no chão.
Ela vai continuar a querer conhecer novos países e culturas. Para Ele... A rua onde moram já é grande demais.
(... podia continuar ...)

No inicio, tudo será bonito e belo. Ambos vão fazer de tudo para que o outro esteja bem. Mas... e depois? E quando ambos chegarem àquela fase em que acham que já cederam o suficiente para que o outro se habitue aos seus hábitos?

E quando os dois forem ao cinema e Ela quiser ver aquele filme romântico que a faz sonhar e Ele, por sua vez, quiser ir ver um policial com o seu actor favorito?

Com o tempo... deixarão de ir ao cinema, é certo.

E para decidir que concerto de verão irão ver? Ela gostava de ir ver a Alicia Keys ou o Elvis Costello e Ele adorava ver Metallica ou Likin Park.

Em que ficamos?

Para Ela, o Domingo perfeito é passado a passear. Nem que seja ir até á praia.. Mesmo que sendo Dezembro. Ela quer, apenas, sair de casa.
Ele quer, apenas, ficar a descansar.

"Afinal, quem está certo ou errado?" - pergunto-me. A resposta é fácil de dar: Ninguém está certo e ninguém está errado. São pessoas diferentes, com gostos diferentes.

A grande pergunta é: O amor resiste a isto? O tal beijinho do fim do filme (que representa o inicio do "felizes para sempre") consegue resistir até ao verdadeiro fim...?

Como será ao fim de 10 anos de casamento?

Ambos fartos, (ainda...) casados, com filhos (ou não...) e numa fase em que o trabalho lhes ocupa uma grande parte do seu tempo. Como é que irão estar?

Ela pensa:
- "Nunca me surpreendeu... Nem uma única vez. Tive que ser sempre eu a puxar por ele..."
Ele pensa:
- "Sempre que ela pediu... fomos jantar fora. O que é que ela quer mais?"

Ao fim de 10 anos de casamento, separam-se. Era inevitável.

Nunca sentiram a música, os filmes, os momentos da mesma maneira. Já não há domingos agradáveis, pois já nem Ele se sente bem a descansar nem Ela a passear.

Já não há passeios na praia... Já não se sente o calafrio quando Ele\Ela chega a casa. Já não há paixão.

Porque, então, decidiram ficar juntos?

Talvez porque, no inicio, fosse a diferença a uni-los.

Mas... o mesmo desafio que os fez dar o "beijinho" vai ser a mesma causa que os vai fazer seguir caminhos diferentes.

Um dia... Escreverei um livro que, claro está, comece pelo casamento!!

P.S.: Acabo com uma frase que vi algures: ~Os sentimentos são para quem os sente... ~