.:: O peso do tempo ::.

Dei por mim a comparar as relações de amizade que por algum motivo são interrompidas com aquela esquisita [esquisita é mesmo o termo que quero usar] sensação que temos quando voltamos a um lugar cuja ultima vez que lá estivemos ainda andávamos ao colo.

É aquele olhar de maneira diferente para o que é igual mas que, no fundo, já nem sequer igual é. Não que algo tenha mudado, porque, na realidade, quem mudou fomos nós. Crescemos.

Vou tentar ser mais concreto.

Falo daquela sensação de, por exemplo, ir à casa antiga da avó que antes tinha, nas traseiras, uma floresta com montanhas e vales e, passados 20 ou 30 anos, quando lá se volta é, apenas, um pequeno quintal com uma laranjeira e 2 ou 3 pequenos amontoados de palha.
Não que antes essa mesma laranjeira e os montes de palha não fossem suficientes para nos preencherem nas brincadeiras. Nada disso. O quintal era perfeito, na altura.

O que quero realmente falar é, acima de tudo, daquele triste momento em que nos apercebemos que a magia se perde… aquele momento em que damos conta que, embora aquele quintal sempre tenha sido assim e que tenha feito parte de um determinado momento da nossa vida, a maneira como olhamos para ele e como nos vemos dentro dele mudou. Esfumou-se. Voou. Perdeu-se algures no tempo.

O embate entre as lembranças e a nova realidade pode nem sempre ser pacífico. È preciso ter capacidade para assumir que, embora não tenhamos dado por isso, mudámos. Errado é culpar a floresta por se ter transformado num quintal, onde o nosso antigo “Castelo das Guerras” é agora, (e como sempre foi), o caixote de madeira onde a avó guarda as hortaliças.
Temos que conseguir lidar com aquele sentimento do «era tudo tão maior»; «era tudo diferente» e, simplesmente, aceitar a nova visão que temos do mesmo quintal.


Mais uma vez,
o que quero transformar em palavras, é a necessidade de consciencialização que temos que ter percebendo que, se calhar, não foi o quintal que mudou.

Por fim,
quando conseguirmos aceitar que foi a nossa maneira de sentir o quintal que mudou, devemos ter a coragem para aceitar isso da maneira mais natural possivel. Errado é, mais uma vez, dizer que, agora, o quintal é mau e não faz mais sentido existir.

Não me apetece escrever mais sobre quintais e hortaliças.


Voltando ao meu ponto de partida:
- As relações sofrem, também, deste fenómeno.
Tenho dito.

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