A Nhoki

A Nhoki.

A Nhoki era uma adolescente insegura e simpática. Mostrava um ar frágil mas divertido. Tinha poucos amigos mas parecia não sentir falta de mais.

A Nhoki era uma sonhadora eximia. A sua imaginação e capacidade de sonhar levavam-na aos mais perfeitos locais onde nada falhava. Aliás, a palavra que melhor definiria a idealização do seu futuro longínquo seria a palavra "perfeito". Como adolescente que era, a Nhoki não sabia pensar em menos que o Perfeito. O Passeio na praia e no jardim, os lanches, as conversas, as fotografias, as músicas... Era tudo perfeito!

Mas a Nhoki também era calma - tão calma - que apesar dos seus arrebatadores caracóis ao vento não se fazia notar... Esforçava-se para se mostrar diferente do "mundo dia-a-dia" mas só voava de olhos fechados...

A Nhoki sonhou correr, sonhou fugir, sonhou conquistar, sonhou sair, sonhou, sonhou, sonhou...

E a Nhoki cresceu, tornou-se mulher - igualmente bonita, com expressões de adulta - e com ela cresceu um Amor com direito a tudo o que um amor de sonho pede para si mesmo: Planos, futuro, projectos, futuro, família, futuro, casamento e mais futuro. Aos 20 anos tem a sua vida projectada até aos 65 anos - data da reforma e sabe o que quer ser, que profissão vai ter, com quem vai casar, onde vai morar... Está tudo estruturado.

A Nhoki da adolescência era, como disse antes, insegura e isso não mudou com o tempo. Ainda assim, o seu amor, planificado com pés e cabeça, deu-lhe a estabilidade e segurança que precisava para se aventurar noutros voos.

A esta altura, a Nhoki já não era mais a Nhoki da Adolescência. Tornou-se num "nome próprio com direito a sobrenome" com um Dr. por detrás do nome que - desconfio - nem sequer gostava.

Assim, o amor que acompanhou a passagem de Nhoki para "Nome-Próprio-Com-Direito-a-Sobrenome" era o pilar de todos os seus planos. Era um amor calmo, mas muito protegido. Razoavelmente romântico mas seguro como nunca eu antes vira.

 Até aqui, ainda o Rapaz não apareceu na história.
Ainda apenas falo do namorado de adolescência e actual "mais-que-tudo".

A Nhoki e a rapariga do "Nome-Próprio-Com-Direito-a-Sobrenome" tiveram uma história em comum, embora com enlaces diferentes.

A Nhoki teve uma paixão sobrenatural pelo mais intenso e Maravilho sentimento que alguma vez sentiu. O rapaz, que era o seu melhor amigo durante anos a fio e o seu melhor confessionário, fê-la sonhar. Valorizou-a e deu-lhe a degustar sentimentos e tremores que nunca tinha sentido. Ele era especial para ela.
Brincavam às "Ilhas Secretas", às bandas sonoras, aos pequenos toques acidentais, ao olhar de lado, ao falar baixinho, ao morder o lábio, ao respirar fundo...  Brincavam como se não fosse sério. Ele, o rapaz, achou ser possível viver no Maravilhoso - o mundo perfeito onde era possível viver tudo e, os dois, sonharam o mais que puderam e podiam.

Ele, o rapaz!

Ele era, até mais do que ela, um sonhador, um apaixonado pelas sensações. Apaixonou-se com a mesma violência de um comboio de ar a acertar no peito.

Com a Rapariga do "Nome-Próprio-Com-Direito-a-Sobrenome" o amor dos filmes era uma relação aos soluços com períodos os hibernação gélida e dolorosa. A cada passo em falso eram criadas promessas de ruptura para que cada new page of her journey fosse um pouco mais sossegada.

Mas ele amava-a com tudo. Era o jeito dela que ele amava, o jeito delicado e a voz cheia de estrelas com medo de brilhar. Ele amava as mãos dela! E o cabelo... e os olhos, e a boca dela. Deus... A boca dela... qual nascente de perfeição e desejo. O rapaz só sabia gostar dela assim... com tudo o que tinha e podia dar.

 Em ambas as moças, o rapaz era o mesmo. Ou tentou sê-lo.

Não sei falar mais sobre isto...